terça-feira, 28 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha

DIVÃLOSOFANDO
Qual o maior medo de uma criança feliz, alegre, sonhadora, idealista, inocente, esperançosa? Tornar-se um adulto! O adulto é aquele que diz que não dá pra ir à praia porque está chovendo; aquele que ama alguém, mas nem sempre escolhe ficar com este alguém; aquele que sufoca seus sonhos porque precisa ter os pés no chão. Convivendo com os adultos, eu notava o quanto eram complicados. Tudo era cheio de complexidade. Ser adulto era ter uma torta deliciosa em sua frente e não poder prová-la por razões incompreensíveis.

Os adultos são complexos, contraditórios, vivem se escondendo atrás de um escudo ao qual dão os mais diferentes nomes. Sim, eu associei ser adulto à falta de imaginação, de coragem e ao pessimismo derrotista. Estou certa? Certo ou errado não é a questão. Simplesmente, revendo meus conceitos, os porquês de ser como sou, cheguei à conclusão de que tudo, ao menos pra mim, é uma questão de associação. Sabendo com o que as coisas estão associadas, e analisando estas coisas, posso reconstruir meus conceitos mais conscientemente.
Parafraseando “Malandragem”, de Cazuza e Frejat, lindamente interpretada por Cássia Eller: Ainda sou uma garotinha esperando o ônibus da escola, achando o príncipe um tremendo chato. Sou criança e não conheço a verdade. Sou poeta e não aprendi a amar. Pedindo a Deus um pouco de malandragem. Sem mais saber sonhar, achando bobeira não viver a realidade.

Preciso seriamente rever conceitos velhos demais, concebidos quando eu era jovem demais. Porque a minha vida é afetada por estes conceitos. Acho lindo ter preservado minha criança interior e compartilhar seus óculos cor-de-rosa. Mas, não posso deixar que uma criança seja responsável por todas as minhas escolhas. Será que posso? Como uma criança poderia lidar com questões complexas sendo tão objetiva? Bem, não sei. E digo mais, tenho muito medo de tirá-la do comando uma vez que é capaz de dar cor a toda banalidade da vida. Quero o equilíbrio do adulto e a ousadia da criança. Seria possível um comando em parceria? Porque cansei. Cansei não de minhas meias ¾, mas, de minha incapacidade de tomar decisões, sempre esperando o adulto que me dá conselhos e permissões. Mas meu lado adulto é uma fração. É possível seguir com meus velhos conceitos? Claro que sim. Mas, confesso que preciso mais de mudança do que de ser criança. Pensando bem a criança já não é mais tão ingênua. Criança cínica, com óculos quebrados, vem caminhando com apatia por trilhas rebeldes, carregando um cesto de desilusões, rumando a um horizonte retalhado, desejando simplesmente desejar. Soltar as mãos de Peter Pan e deixar de voar para caminhar com meus próprios pés é o que deveria fazer. A ver! Acredito que na vida os olhares são infinitos e, esse foi apenas um.


by Daniella Dal'Comune - 2010